Com mudanças tarifárias anunciadas por Trump, empresas brasileiras devem adotar novas estratégias para evitar oscilações de políticas externas, conforme explica Jurema Aguiar de Araújo
Recentemente, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou a imposição de tarifas significativas sobre produtos importados do México, Canadá e China. As medidas incluem uma tarifa de 25% sobre todas as importações do México e do Canadá, com exceção do setor de energia, que será taxado em 10%. Para a China, foi estabelecida uma tarifa de 10% sobre os produtos importados. Essas tarifas estão programadas para entrar em vigor a partir de terça-feira, 4 de fevereiro de 2025. É importante notar que, após negociações, o governo dos EUA decidiu suspender temporariamente as tarifas impostas ao México por um período de um mês, após a presidente mexicana, Claudia Sheinbaum, comprometer-se a intensificar os esforços de segurança na fronteira para conter o fluxo de drogas. Enquanto escrevo esse artigo, o prazo para a entrada das novas tarifas também foi estendido para o governo do Canadá após uma conversa de última hora de Trump com o primeiro-ministro, Justin Trudeau.
Os recentes anúncios de Donald Trump sobre tarifas aplicadas a produtos da China, México e Canadá não são apenas medidas protecionistas. Representam movimentos estratégicos em um tabuleiro global, no qual países e empresas precisam redefinir suas estratégias. Para o Brasil, essas mudanças criam tanto desafios quanto oportunidades, exigindo uma abordagem inteligente para evitar o xeque-mate da competitividade.
O que acontece com o agronegócio brasileiro?
As tarifas impostas aos parceiros comerciais dos EUA podem gerar efeitos colaterais significativos. Enquanto setores industriais enfrentam o risco de uma maior concorrência com produtos chineses desviados dos EUA, o agronegócio brasileiro pode expandir sua presença como fornecedor para a China, que buscará alternativas para suas importações. A reconfiguração das cadeias de suprimentos globais, causada pela guerra comercial, pode abrir novas frentes de negociação, tanto com os Estados Unidos quanto com outros mercados emergentes. Empresas que souberem antecipar esses movimentos poderão conquistar vantagens competitivas, enquanto aquelas que permanecerem presas a modelos tradicionais correm o risco de estagnação.
A história do comércio global mostra que medidas protecionistas raramente acontecem sem retaliações. Isso torna o cenário atual mais complexo, exigindo análises cuidadosas por parte das empresas e do governo brasileiro para não serem surpreendidos. No entanto, o Brasil não deve apenas reagir às mudanças, mas também agir estrategicamente. Diversificar mercados, investir em inovação e fortalecer cadeias produtivas locais são passos cruciais para evitar dependência de oscilações políticas externas.
No comércio global, vencer não depende apenas de força, mas de estratégia. Joseph Schumpeter, em sua teoria da destruição criativa, destacou que a capacidade de inovar e se adaptar é o que garante a sobrevivência e o crescimento de empresas em contextos de transformação. Da mesma forma, empresas brasileiras que compreenderem essa dinâmica estarão melhores preparadas para capturar oportunidades e mitigar os riscos de um cenário de tarifas e retaliações.
Neste contexto, o Conselho de Administração desempenha um papel de grande responsabilidade que vai além da supervisão: envolve antecipar riscos, identificar oportunidades e ajustar os modelos de negócio das empresas frente às novas condições globais. O protecionismo dos EUA, por exemplo, pode gerar mudanças na concorrência internacional e nas cadeias de suprimento, afetando tanto o mercado doméstico quanto as exportações brasileiras. O Conselho precisa garantir que a empresa tenha alternativas para fornecedores estratégicos e, ao mesmo tempo, que esteja preparada para responder a eventuais flutuações cambiais e pressões sobre custos.
Novos horizontes e desafios
Por outro lado, as tarifas de Trump também podem abrir novas oportunidades para o Brasil, especialmente em setores como o agronegócio e energia. Empresas brasileiras podem aproveitar a menor competitividade dos produtos chineses nos EUA para ocupar novos mercados. Da mesma forma, a busca por mercados alternativos por parte da China pode beneficiar exportadores brasileiros. Nesse cenário, cabe ao Conselho guiar a empresa na exploração dessas oportunidades, promovendo diversificação de mercados e parcerias internacionais. Além disso, as tarifas podem impactar os custos de produção, exigindo uma revisão da cadeia produtiva e da logística. O Conselho deve assegurar que a empresa esteja preparada para realocar investimentos e modernizar processos, garantindo eficiência operacional e competitividade a longo prazo. Outro aspecto relevante é a necessidade de alinhar a governança corporativa ao contexto global, monitorando de perto mudanças regulatórias e diplomáticas que podem influenciar diretamente as operações.
Um dos maiores desafios para os conselhos é manter a organização preparada para cenários imprevisíveis. É essencial que os conselheiros estejam atualizados sobre o cenário econômico global e orientem a empresa a adotar um planejamento estratégico resiliente e flexível. Empresas que antecipam mudanças e ajustam suas operações de forma ágil têm maiores chances de sucesso em momentos de incerteza.
O economista Joseph Schumpeter destacou que o capitalismo é movido pela destruição criativa, um processo constante de renovação e inovação que força empresas a se adaptarem ou desaparecerem. No xadrez do comércio global, essa lógica se aplica. As empresas mais bem-sucedidas não reagem apenas ao último movimento, mas já planejam suas próximas jogadas. No caso do Brasil, a encruzilhada é clara: ou o país se posiciona estrategicamente e ocupa um papel de protagonismo, ou corre o risco de perder relevância no cenário global.
O Conselho de Administração é um ator indispensável para garantir que as empresas brasileiras não apenas sobrevivam às turbulências globais, mas prosperem. Cabe a ele guiar a organização com visão estratégica, antecipando movimentos, explorando oportunidades e assegurando a competitividade em um cenário internacional cada vez mais dinâmico e desafiador.
O comércio global cria valor agregado, incentiva a inovação, promove crescimento econômico e melhora o bem-estar geral dos países. O desafio está em gerenciar os desequilíbrios e as tensões comerciais para garantir que os benefícios sejam amplamente distribuídos.
A falta de liderança e posicionamento estratégico do Conselho de Administração pode comprometer a sustentabilidade, o crescimento e a relevância da empresa nesse novo cenário com as decisões de Trump. Os conselhos atuam de forma proativa, analisando riscos, criando estratégias resilientes e liderando com visão de longo prazo. Sem essa liderança, as empresas brasileiras correm o risco de ficar para trás em um ambiente econômico em rápida transformação.
Fonte Especializada
Jurema Aguiar de Araújo, conselheira certificada pelo IBGC, é uma especialista em governança corporativa com ampla experiência em conselhos nacionais e internacionais. Ela destaca que “a adoção de conselhos independentes no agronegócio brasileiro pode ser um divisor de águas, garantindo não apenas o crescimento sustentável, mas também a manutenção de uma posição de destaque no mercado global”.
Assessoria de Comunicação
Karoline Kantovick