O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), avaliou o uso das redes sociais pela extrema direita, em entrevista à publicação norte-americana The New Yorker, como “o novo populismo extremista digital”.
“A extrema direita notou que, durante a Primavera Árabe, as redes sociais eram capazes de mobilizar as pessoas sem intermediários”, disse o magistrado. “Primeiro, os algoritmos eram refinados por propósitos econômicos, para cativar consumidores. Depois, as pessoas perceberam o quão fácil era redirecionar isto para poder político.”
Ainda segundo Moraes, se Joseph Goebbels, ministro da propaganda de Adolf Hitler, estivesse vivo e com acesso ao X, “estaríamos condenados”, porque “os nazistas teriam conquistado o mundo”.
O ministro pontuou à revista que a extrema direita tem buscado conquistar espaço na arena política por meio da descredibilização do processo eleitoral.
“A extrema direita quer conquistar poder, não dizendo que se opõe à democracia, porque isso não conquistaria apoio público, mas alegando que as instituições democráticas são manipuladas. É um populismo altamente estruturado e inteligente. Infelizmente, no Brasil e nos Estados Unidos, ainda não aprendemos como lutar contra”, citou.
Moraes relembrou durante a entrevista que chegou a ser comparado pelo empresário Elon Musk a uma “mistura de Voldemort com um Sith”, vilões das franquias Harry Potter e Star Wars, respectivamente.
“Para ser sincero, acho engraçado”, pontuou ele, que relembrou a suspensão do X no Brasil, por descumprimento de decisões judiciais. “Como todas as outras empresas, esta também deve obedecer as leis brasileiras. Quem escalou na desobediência foi a empresa sob o comando direto do seu maior acionista. E naquele momento, Musk se tornou pessoalmente responsável também”.
O ministro do Supremo analisou, ainda, os efeitos do discurso do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) sobre o eleitorado e, para ele, “a extrema direita manipulou com sucesso essas palavras (liberdade) para fazer as pessoas acreditarem que elas são as reais defensoras da democracia”. “É um impressionante feito de lavagem cerebral”.
“Nos Estados Unidos, Trump acusou os votos por correspondência de serem fraudulentos. No Brasil, Bolsonaro acusou as urnas eletrônicas de serem fraudulentas”, comparou ele. “Não é sobre o método de votação. É sobre declarar que o sistema é manipulado, para justificar tomar conta do poder para ‘consertar a democracia’”.
Sobre os atos antidemocráticos de 8 de janeiro de 2023, Moraes analisou que na época “definitivamente” havia um risco de ruptura democrática no Brasil e que esse risco ainda é presente.
Questionado se acreditava que Bolsonaro estaria por trás dos ataques aos dos Três Poderes, o magistrado resolveu não entrar em detalhes, já que é relator do caso no STF.
Fonte: www.cnnbrasil.com.br