O casamento é um marco importante na construção de uma vida a dois, mas pode trazer desafios para a saúde, principalmente quando se trata do peso. Um novo estudo realizado pelo Instituto Nacional de Cardiologia de Varsóvia, na Polônia, revelou que o matrimônio pode triplicar as chances de obesidade nos homens, enquanto para as mulheres esse impacto não foi significativo.
A pesquisa, que será apresentada oficialmente em maio no Congresso Europeu sobre Obesidade, analisou dados de 2.405 adultos com idade média de 50 anos e identificou que a taxa de obesidade entre os casados é 3,2 vezes maior em comparação à dos solteiros.
Mas o que está por trás desse fenômeno? Alessandra Rascovski, endocrinologista e diretora clínica da Atma Soma, explica que a mudança na rotina alimentar e no estilo de vida após o casamento pode estar entre os principais fatores.
“Muitos homens acabam deixando os cuidados com a alimentação de lado e adotam hábitos mais sedentários, especialmente quando comparados ao período anterior ao casamento, quando podem estar mais preocupados com a aparência”, comenta.
Já para as mulheres, embora o ganho de peso também possa acontecer, a pressão social para manter a forma parece atuar como um fator compensatório.
A Dra. Alicja Cicha-Mikolajczyk, autora do estudo, concluiu que o casamento tem um “impacto inegável” nas taxas de obesidade. “A forma como a sociedade enxerga a obesidade nas mulheres é diferente da dos homens — elas são estigmatizadas com mais frequência. Partimos do pressuposto de que as mulheres têm maior dificuldade em aceitar viver com obesidade e, por isso, estão mais propensas a adotar medidas para perder peso.”
Mas, o que muda na alimentação após o casamento?
A vida a dois frequentemente altera o modo como as refeições são feitas. Muitas vezes, o casal, sem perceber, pode aumentar a frequência do consumo de pratos mais calóricos.
Além disso, eventos sociais, pedidos de delivery e aquele “lanchinho” compartilhado no sofá à noite podem contribuir para o acúmulo de peso ao longo do tempo. “O casamento é uma nova fase, com novas experiências e adaptações. E a alimentação faz parte disso”, reforça Rascovski.
Outra mudança está na prática de atividades físicas. Enquanto solteiros podem manter uma rotina mais ativa – seja por hobbies esportivos ou preocupação com a aparência –, homens casados tendem a reduzir essas atividades. “Sem perceber, muitos passam a priorizar momentos de descanso e lazer em casal, deixando de lado hábitos que antes eram comuns, como academia ou esportes”, completa a especialista.
Embora o risco de obesidade aumente, há um outro lado positivo: o casamento, de modo geral, é associado a benefícios para a saúde. Um estudo realizado durante o 63º Encontro Anual do Colégio Americano de Cardiologia, que avaliou dados de mais de 3,5 milhões de pessoas nos Estados Unidos, revelou que os casados têm menores chances de desenvolver doenças cardiovasculares em comparação com solteiros, divorciados e viúvos.
De acordo com a pesquisa, indivíduos casados apresentaram uma redução de 5% no risco de doenças vasculares, 8% menos de chances de aneurisma da aorta abdominal, 9% menos de risco de doenças cerebrovasculares e 19% menos propensão a doenças arteriais periféricas.
“O casamento pode, sim, ser um incentivo para hábitos mais saudáveis, desde que o casal tenha essa consciência e busque equilibrar prazer e bem-estar”, destaca Rascovski. A chave, segundo ela, está no apoio mútuo para uma rotina harmônica e uma vida ativa.
Como evitar o ganho de peso após o casamento?
Se a tendência ao ganho de peso existe, também há formas eficazes de evitá-la. Algumas estratégias incluem:
- Planejamento alimentar: preparar refeições equilibradas e evitar o excesso de alimentos ultraprocessados;
- Atividade física em casal: encontrar exercícios que ambos gostem, como caminhadas, dança ou academia;
- Consciência nas porções: evitar exageros nas quantidades e prestar atenção no consumo emocional;
- Momentos sociais equilibrados: intercalar saídas gastronômicas com programas que envolvam movimento, como passeios ao ar livre.
No Brasil, de modo geral, a obesidade já é considerada um problema de saúde pública. Estimativas do Atlas Mundial da Obesidade indicam que até 2030, cerca de 68% da população adulta pode estar com sobrepeso ou obesidade. Para Rascovski, é fundamental que tanto políticas públicas quanto mudanças individuais ajudem a conter esse avanço.
“Precisamos olhar para a obesidade sem estigmas, mas com responsabilidade, oferecendo informações e condições para que as pessoas possam ter uma alimentação saudável e acessível”.
Ainda que o estudo polonês não seja definitivo e mais pesquisas sejam necessárias, ele destaca a importância de se observar os hábitos de vida que surgem após o casamento. O desafio está em encontrar um equilíbrio saudável entre os momentos compartilhados a dois e o cuidado com a saúde, para garantir que essa fase da vida seja tanto enriquecedora quanto benéfica para o bem-estar físico e mental.
“O casamento pode ser um ponto de partida para um estilo de vida mais saudável, desde que os casais estejam atentos a suas rotinas alimentares e atividades físicas, sempre com o apoio mútuo para manter a saúde em dia”, finaliza Alessandra Rascovski.
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Fonte: www.cnnbrasil.com.br
